A instituição dominante na Europa Ocidental, durante os
séculos em que a civilização medieval alcançou seu apogeu, foi a Igreja
Católica Romana. Embora não tenha conseguido o controle total sobre a vida das
pessoas devido à resistência determinada dos poderes leigos, a Igreja, não
obstante, exercia uma influência dominante. Era encarregada de muitas funções
que o Estado Moderno considera como sua atribuição.
A ascensão da Igreja em sua posição dominante cobriu um
período de muitos séculos. O caminho para sua grandeza foi aberto quando o
imperador Constantino, com sua conversão, tornou o cristianismo a religião
oficial do Império Romano. A partir de então, a Igreja cresceu rapidamente numa
organização que abraçava a maior parte da Europa, partes do norte da África e o
Oriente Próximo. Mas, gradualmente, apareceram diferenças entre as igrejas
oriental e ocidental, resultando na divisão da Igreja em duas partes: a Igreja Ortodoxa Oriental,
com seu centro em Constantinopla, e a Igreja
Católica Romana, que tinha no bispado em Roma seu foco
principal. Nas províncias orientais, onde a cristandade se originou, a Igreja ficou sob controle do
Estado, enquanto na Europa Ocidental a Igreja Católica Romana
subordinou o Estado a seus interesses.
A fonte da influência e prestígio da Igreja Católica
Romana foi a missão espiritual, que era geralmente vista como superior às
questões temporais. Para reafirmar que a missão da Igreja era algo
infinitamente superior às questões mundanas, os escritores da Igreja
repetidamente faziam referência à afirmação atribuída a Jesus. "Meu reino
não é deste
mundo". O assunto de importância sem rival era obter a
salvação, ou seja, a glória eterna na vida futura. A tarefa de trazer a
salvação para a humanidade era um monopólio da Igreja. De acordo com os
escritores eclesiásticos, a Igreja era a única depositária na Terra da graça
divina que é necessária para a salvação, logo, não havia salvação fora da
Igreja. Porém a Igreja não se esforçava para conseguir seus propósitos por si
mesma. Alistava todas as atividades no preenchimento de sua missão,
determinando a cada um, certo dever específico. Assim, a vida como um todo
estava intimamente ligada às finalidades da Igreja. A abrangência da teoria
eclesiástica não deixava qualquer espaço na ordem estabelecida para valores ou
atividades que fossem, de alguma maneira, contrários ou inimigos dos altos
propósitos da Igreja.
Devido ao fato de os ensinamentos da Igreja serem
geralmente aceitos na Europa Ocidental após a conversão dos bárbaros, havia
pouca resistência ao estabelecimento do controle eclesiástico. Este controle fez da Igreja a mais poderosa força
que moldou a civilização medieval, que alcançou seu maior desenvolvimento nos
séculos XII e XIII. Era
uma civilização que, em teoria e na realidade, representava uma síntese dos
mundos terreno e espiritual. Foi dado ao secular uma dupla dimensão, terrena e
extraterrena. Filosofia,
ciência natural, literatura, drama, música, pintura, escultura e
arquitetura tornaram-se departamentos da Igreja. A educação também foi adaptada a seus fins. A Igreja esforçou-se também para incluir a economia na esfera eclesiástica.
Promulgando a teoria do "justo preço", prescrevia a
fórmula para estabelecer o preço das mercadorias. Procurou restringir também as
guerras, ordenando a "trégua de Deus" e a "paz de
Deus". Assim a influência da Igreja estava presente em
todas as manifestações da vida.
Mesmo o Estado não tinha uma existência independente da
Igreja e de sua missão. Não havia separação entre a Igreja e o Estado, pois
este era uma instituição considerada necessária para ajudar a Igreja a realizar
seus propósitos. Esperava-se que reis e príncipes moldassem sua política
em harmonia com os ensinamentos da Igreja. Na época romana, a religião havia
sido subordinada ao Estado e ao interesse dos cidadãos, mas, durante a Idade
Média, era a Igreja que prescrevia os deveres do Estado. Na medida em que o
Império Romano declinou, o Estado perdeu gradualmente a posição dominante que
tivera na época clássica, e sua posição foi reduzida a uma agência
eclesiástica. Além de resolver suas próprias questões, esperava-se que o Estado
ajudasse a Igreja a conduzir os homens para a felicidade eterna. Os deveres de um rei, além
de cuidar dos deveres do Estado, incluíam poder usar a força para que fossem
obedecidas as ordens da Igreja e realizar as punições que a Igreja determinava.
Por Julia Fabricio